Sociedade Martins Sarmento, de 9 de Março a 8 de Abril de 2012.
A exposição O Fotógrafo Martins Sarmento é composta de uma selecção e relação de imagens da autoria de Francisco Martins Sarmento (1833-1899). Apresenta o Arqueólogo como Fotógrafo e relaciona o seu processo de aprendizagem e prática fotográfica com os trabalhos arqueológicos que levou a cabo em Briteiros e em Sabroso. O livro catálogo que acompanha esta exposição publica, pela primeira vez, os Cadernos de Fotografia de Martins Sarmento, escritos entre 1868 e 1876.
As fotografias de Martins Sarmento, feitas entre os anos sessenta e os anos oitenta do século XIX, podem dividir-se em dois grupos: imagens de estúdio, tiradas no seu atelier do Palacete da Rua do Poço (actual Largo Martins Sarmento) e fotografias de arqueologia, tiradas nos trabalho de escavação de Briteiros e Sabroso. Um e noutro grupo são não só testemunhos do espírito curioso e metódico de Sarmento, mas também imagens da interrogação: as dúvidas da iniciação de Sarmento na arte fotográfica reflectem-se nas imagens de estúdio; as fotografias de arqueologia, como reprodução da realidade, permitem a formulação de hipóteses sobre o objecto fotografado. É pelo registo fotográfico da Citânia de Briteiros, organizado em dois álbuns, que Sarmento chama a atenção do país e da Europa para a importância da sua descoberta.
A exposição parte desta natureza interrogativa das fotografias, propondo-lhes uma renovação da função: o que poderá ficar destas imagens para além do seu conhecido contexto e significado histórico? A proposta abre-se em três motivos de leitura continuada: rostos, suspensões e coisas. As fotografias de estúdio—não só de pessoas, mas também de objectos e de imagens—fazem o segmento dos rostos. Nas suspensões, o tema central das imagens aparece numa levitação quase irreal, fruto de um trabalho de delineação dos seus contornos, feito por Sarmento para evidenciar ou isolar determinado aspecto da imagem. Nas coisas, as imagens dos trabalhos e dos achados arqueológicos mostram-se com ou sem elementos de escala, oscilando, desta forma, entre a perceptibilidade e a quase abstracção.
A Colecção de Fotografia de Martins Sarmento é composta por 543 negativos em colódio sobre placa de vidro. Por disposição testamentária do próprio Sarmento, encontram-se à guarda da Sociedade Martins Sarmento. Dando seguimento à partilha de espólios fotográficos, o projecto Reimaginar Guimarães, da Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura, em colaboração com a Sociedade Martins Sarmento, procedeu à limpeza, digitalização e legendagem destes negativos.
As fotografias expostas são impressões em jacto de tinta Ultrachrome k3 sobre papel Fineart Fibra de 285grs a partir de digitalizações dos negativos originais. A sua apresentação, sem tratamento digital de limpeza, traduz a opção de mostrá-las com as inscrições próprias do tempo que por elas passou.
Eduardo Brito
Cláudio Rodrigues
(oof.pt)
Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura.