Casa da Memória, 15.12.2012 a 23.02.2013
De regresso à Colecção de Fotografia da Muralha, Associação de Guimarães para a Defesa do Património, o Reimaginar Guimarães apresenta Plano Geral—Grande Plano, uma exposição que usa a duração do cinema para relacionar e procurar as histórias que estão dentro deste acervo.
Um percurso de cinco filmes, feitos a partir de imagens fotográficas deste arquivo, desdobram a profissão dos seus dois fotógrafos conhecidos, Domingos Alves Machado e Amílcar Lopes, nos seus rituais diários, cenários interiores e exteriores, fotografias de fotografias, plano geral da cidade, grande plano de rostos, hoje distantes e anónimos.
Plano Geral—Grande Plano prossegue a história desta Colecção, desde a sua criação, enquanto espólio da Foto Moderna & Eléctrica Moderna, à sua posterior aquisição pela Associação Muralha, na década de 1980, concluindo-se na sua recuperação e digitalização, mais de um século depois. A sua publicação e difusão, em reimaginar.org, que se apresenta no âmbito desta exposição, é o instrumento que garante a continuidade dessa história.
A história da Colecção de Fotografia da Muralha é uma história de transferências de contextos, e sentidos e Plano Geral—Grande Plano abandona a evidência documental e a identidade da legenda para privilegiar a correspondência directa que se faz entre as imagens.
Plano Geral—Grande Plano prossegue essa proposta por duas vias: uma exposição de fotografia de arquivo que não apresenta imagens impressas; outra, a possibilidade de um registo cinematográfico neste mesmo universo de imagens de arquivo, ou seja, de imagens que foram produzidas sem um propósito narrativo.
É uma exposição de fotografia com uma duração definida. Dito de outra forma, é uma exposição que dura 17 minutos e 42 segundos—a soma dos cinco pequenos filmes que a compõem. Estes filmes jogam com a gramática cinematográfica de plano geral (o plano da cidade e dos seus espaços) e de grande plano (o plano dos rostos) mas também com as múltiplas interpretações que um arquivo fotográfico potencia: um lugar prioritário para o imaginário.
Como resultado de uma opção de enquadramento, toda a fotografia exclui. Logo, com o enquadramento esvai-se a ambição de verdade absoluta da imagem fotográfica. Será justo dizer então que toda a fotografia é mentira? O que sucede à imagem fotográfica quando se ficciona em seu redor? Ou, apresentando a possibilidade de outro modo: o que acontece a um trivial conjunto de fotografias quando se lhes sobrepõe uma narração de algo que, de facto, sucedeu mas que não corresponde ao que estamos a ver?
A relação do retratista com o retratado é uma relação de confiança. Idêntica ou compatível à que o cliente tem com o seu fornecedor. Assim acontece num estúdio fotográfico comercial. Na Colecção de Fotografia da Muralha, vinda da Foto Eléctrica- -Moderna & Foto Moderna, os rostos repetem-se com o passar dos anos: duas, três, cinco vezes, os retratados dão-se a envelhecer em frente à objectiva. O resultado é uma teia de relações e de rituais: um bombeiro que, ao longo de décadas, vai ao retrato, uma família que, à medida que cresce, se deixa retratar.
O cenário no interior do estúdio é uma tela do interior de uma casa senhorial, composta por uma janela à esquerda e uma porta à direita, elementos que lhe duplicam o espaço do enquadramento. Por vezes o cenário é curto e cola-se a outros improvisados. A dezena de cenários que se usaram na Foto Eléctrica-Moderna & Foto Moderna transformam-se no plano geral que enquadra as famílias que se quiseram cerimoniosamente retratar.
Actores, dançarinos, encenações, festas, embriaguez: dentro e fora do estúdio, o fotógrafo regista (e encena) a imagem da folia. Este segmento é apresentado com um excerto da peça Cinéma: Entr’acte symphonique de Relâche, peça de Erik Satie.
A 30 de Novembro de 2012, o número de imagens digitalizadas da Colecção de Fotografia da Muralha era de 4500. Dentro deste conjunto, contam-se setenta e uma imagens de fotografias (o fotógrafo fotografa fotografias impressas) e fotomontagens (o fotógrafo faz colagens de várias fotografias numa só). Esta apresentação exibe as 4500 imagens fotográficas, com paragens em cada uma das fotografias de fotografias.
Concepção e Curadoria
Eduardo Brito
Susana Lourenço Marques
Selecção de imagens
Susana Lourenço Marques
Eduardo Brito
Digitalização e tratamento das imagens
Bruno Fernandes
Sandra Santos
Eduardo Brito
Inês Viseu
Desenho da exposição
Susana Lourenço Marques
Eduardo Brito
Design da comunicação
Cláudio Rodrigues (oof.pt)
Montagem dos filmes
David Ferreira
Música
Cinéma: Entr’acte symphonique de Relâche, de Erik Satie
Adaptação para toy piano
João Godinho
Joana Gama
Interpretação
Joana Gama
Montagem da exposição
André Leston
Ricardo Bastos Areias
Vítor Silva
Produção
Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura
CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura